sábado, 7 de fevereiro de 2009

Luís António Verney

Luís António Verney nasceu em 1713 em Lisboa. Foi um filósofo, teólogo, professor e escritor português. Para além disso, foi também representante do Iluminismo em Portugal, e um dos mais famosos estrangeirados portugueses. Filho de pai francês e de mãe portuguesa, Verney estudou no Colégio de Santo Antão e na reformadora Congregação do Oratório até se formar em Teologia na Universidade de Évora.
Parte, então, para Roma, em demanda de saber, alcançando o doutoramento em Teologia e Jurisprudência. O mais conhecido e activo estrangeirado português, colheu fora de Portugal os pensamentos de renovação que iluminavam a Europa.

Neste Século das Luzes , se nos for lícito eleger uma figura que se destacou pelo seu profundo empenho no combate mental pela reforma da cultura em Portugal, aclamamos por excelência o pensamento de Luís António Verney.A obra chave de Verney é constituída por dezasseis cartas que o autor Barbadinho italiano escreve a um doutor de Coimbra. Com efeito, quando pensamos na referência a Itália, urge focar os seus contactos com os iluministas italianos, principalmente com Muratori, com o qual se carteou sobre jurisprudência e ensino. Mais ainda, é relevante o seu contacto directo com a realidade italiana, as suas escolas, hospitais e tribunais regidos por directrizes modernas e eficazes.
Com o contacto italiano, Verney intelectualizou um plano de intervenção global que denota influências decisivas dos grandes pensadores da sua época.




Verdadeiro Método de Estudar


"Na história da cultura da nossa pátria, o nome de Verney é de primeira grandeza; e o Verdadeiro Método, por alguns aspectos, a maior obra de pensamento que se escreveu em português."

António Sérgio


Apesar de ter escrito "Cartas Italianas" e "Metafísica" a sua principal obra foi "Verdadeiro Método de Estudar" em 1746. As suas páginas revelam um ideal filosófico recebido de John Locke. O principal mérito da obra de Verney, segundo o que os autores contemporâneos defendem, como o professor Jacinto do Prado Coelho, não se encontra no conjunto de ideias apresentadas, que não primam pela total originalidade, principalmente no momento actual que oferece possibilidade de identificação de fontes e influências, mas sim no modo singular como o nosso autor conseguiu conjugar todo um caudal de informações de origem variada, criando a estrutura interna do Método por conformação de sinergias criadoras. Jacinto do Prado Coelho sintetiza deste modo as vertentes reformadoras das dezasseis cartas:


"necessidade de tornar centro de estudos linguísticos, em vez do Latim, a própria língua materna; inclusão, ao lado das línguas clássicas já consideradas, algumas das línguas modernas; a substituição da Retórica de ornato, sem finalidade persuasiva, por certos princípios mínimos conducentes ao discurso em perspectiva de razão; a inclusão, no quadro das necessidades da cultura geral, dos estudos históricos e geográficos; a importância a conceder aos estudos experimentais de Física como preparação científica dos estudos superiores de natureza técnica, a consideração a ter pelo nascente Direito das Gentes como fundamentação dos estudos jurídicos; a importância a dar à Teologia Positiva na preparação do teólogo, que se destina, na maioria dos casos, a pôr-se em contacto com almas e não a preencher qualquer cátedra especulativa".

























Verdadeiro Método de Estudar, Luís António Verney, 1746



As posições de Verney não deixam dúvidas: contra a Companhia de Jesus, contra a entrega aos frades do ensino da ciência, contra a Inquisição, invenção de Maomé, contra os processos do Tribunal do Santo Ofício, o iluminista não é uma figura grata aos detentores das rédeas do ensino em Portugal.
O Verdadeiro Método de Estudar é, por tudo isto, uma proposta pedagógica de reforma marcada pela ruptura. Composto por dezasseis cartas de profunda erudição, vivas, enérgicas e com um perfume de graça, abordam, como já dissemos, temas muito variados. Defende a simplificação da ortografia, a substituição da vetusta e pesada arca de preceitos latinos do P. Manuel Álvares (que tinha 247 regras só para a sintaxe dos substantivos !) em prol da gramática latina, o ensino da língua portuguesa, o ensino da História, da Cronologia, da Geografia, da língua grega, do Hebraico, da Retórica, da Filosofia e da Metafísica, a Ética, a Teologia, o Direito Canónico e Civil e a Medicina.
Para além da ausência de castigos corporais, Verney defende ainda que a gramática da língua materna deve ser ensinada com um conjunto de requisitos sendo:

"curta e clara, a voz do mestre fazendo mais que os preceitos; no ensino dela, nem pancadas nem maus modos, mas grande paciência; e, sobretudo, o ensino prático, mostrando-lhe nos seus mesmos discursos, num livro vulgar ou carta bem escrita e fácil, o exercício e a razão de todos esses preceitos."


Esta pedagogia admirável e ainda hoje perfeitamente actual, constituía uma ruptura total com as concepções tradicionais dos pedagogos nacionais da época.
Estas ideias de Verney só viriam a revelar toda a sua sabedoria no futuro reinado de D. José que marca um novo e decisivo tempo para o ensino em Portugal.
Verney é o principal agitador mental do nosso país, segundo Frei Fortunato de S. Boaventura e o Padre Severiano Tavares. Mais ainda, muitos autores o consideram como verdadeiro messias cultural. Outros críticos, reconhecendo o seu valor, não deixam de lhe apontar alguns aspectos menos virtuosos. Porém, a sua tentativa de trazer a Portugal as novas luzes que transformavam a Europa merece o profundo comentário de Óscar Lopes e António José Saraiva que aqui transcrevo:



"No seu conjunto, o Verdadeiro Método de Estudar apresenta um certo número de características notáveis. Em primeiro lugar, a linguagem é franca, objectiva, sem rodeios nem incidências de humor: chama «parvoíce», «rapaziada», «ignorância», «idiota» ao que lhe parece. Depois, mede todas as questões pedagógicas segundo o critério da utilidade prática, o rendimento social efectivo dos estudos. Não tem qualquer preconceito exclusivista de superioridade, nem do trabalho intelectual relativamente ao manual, nem da inteligência masculina relativamente à feminina, e por várias vezes exprime a convicção de que, nas mesmas condições de vida e de escolaridade, negros ou ameríndios valeriam como brancos.
A sua preocupação de pôr os problemas de um modo impessoal, sem ferir susceptibilidades particulares, de expor com clareza, de ministrar indicações úteis (por exemplo, a bibliografia crítica como remate de cada assunto), autenticam uma profunda sociedade de propósitos."
















Oscar Lopes e José António Saraiva, respectivamente


Fontes utilizadas:


http://www.ipv.pt/

http://www.wook.pt/

http://pt.wikipedia.org/




Carolina

4 comentários:

  1. Excelente! Cheio de oportunidade no quadro do nosso trabalho. Muito informativo e bem estruturado. Óptimo cuidado com as fontes e até com a vénia que soubeste fazer para os dois dos nossos mais importantes estudiosos/professores de literatura! FM

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  2. Desculpem: de literatura e de história da cultura portuguesa, claro! FM

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  3. citem trechos de "Verdadeiro Método de Estudar"

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