quinta-feira, 26 de março de 2009

ARTE EM PORTUGAL - ESTILO MANUELINO



A arte em Portugal: o gótico-manuelino e a afirmação das novas tendências renascentistas

O renascimento é um fenómeno contemporâneo dos Descobrimentos e desenvolveu-se em intima ligação com a empresa ultramarina nacional. Todavia, a arte renascentista só tardiamente chega a Portugal e, de início, apenas através de elementos decorativos associados às estruturas do gótico final. No nosso País, porém, este estilo desenvolveu características ornamentais próprias, definindo entre finais do século XV e inícios do século XVI, uma arte frequentemente denominada como manuelino ou gótico-manuelino.


O gótico Manuelino

A arquitectura do gótico-manuelino integra-se no modo típico de construção do gótico e desenvolve a tendência da arte final deste estilo para a descompartimentação e homogeneização dos espaços interiores. Esta característica explica a preferência típica do manuelino pelas igrejas-salão.


No campo decorativo, a representação da natureza expressa-se por ornamentações de carácter realista onde a demonstração vegetalista aparece frequentemente de forma exuberante, como se pode verificar nas obras mais importantes do manuelino: janela da Sala do Capitulo do convento de Cristo (c. 1510), em Tomar, Mosteiro dos Jerónimos, com especial destaque para o magnifico portal da igreja, arcada do claustro de D. Manuel no Mosteiro da Batalha ou ainda na Torre de Belém.


O exotismo que transparece na representação de animais, flora e seres humanos estranhos, no qual alguns pretenderam ver a especificidade bem portuguesa do manuelino, aparece episodicamente. O seu principal significado estará na procura do diferente e do novo, na pretensão nacionalista de se distinguir dos modelos estrangeiros, transportando para o espaço nacional elementos que faziam parte do quotidiano das viagens e dos encontros civilizacionais no Império Português.

Por outro lado o facto de o gótico-manuelino se ter desenvolvido, quase sempre, sob a tutela da coroa explica a utilização de elementos decorativos associados ao objectivo da exaltação da monarquia de direito divino, como a esfera armilar, ou ainda o profundo sentido místico que emana das imagens sacras, em particular da Virgem, transformada por D. Manuel I numa espécie de símbolo régio.


As novas tendências renascentistas


A arte do renascimento penetrou em Portugal como forma ornamental associada à arquitectura da última fase do gótico.Com efeito, os elementos decorativos renascentistas arabescos, grotescos, medalhões, aparecem a decorar formas arquitectónicas essencialmente góticas. Uma outra particularidade é que foram introduzidos por artistas estrangeiros, biscainhos e galegos na região Norte do País, franceses e, mais tarde, italianos, nas regiões Centro e Sul, em particular, em Coimbra, Tomar, Lisboa, Évora e Portalegre, ou por nacionais educados no estrangeiro, como Francisco da Holanda (1517-84), artista, historiador e critico de arte, que teve um papel importante na difusão das novas ideias.


Os motivos ornamentais que caracterizam esta tendência são de uma riqueza impressionante e, ao contrário do que se tornou vulgar dizer, não é caracterizada apenas pelos motivos
marítimos, inspirados na Era das Descobertas, mas por um conjunto de símbolos de ordem diversa onde, eventualmente, se encontram elementos do género. A ideia de que os motivos ornamentais se ligavam ao mar deve-se a Edgar Quinet, em 1857, e tornou-se um lugar comum.

No que diz respeito à arquitectura propriamente dita, o estilo Manuelino não mascara a estrutura dos edifícios ao mantê-los livres de ornamentação desnecessária: as paredes exteriores ou interiores são geralmente nuas, concentrando-se a decoração em determinados elementos estruturais, como janelas,
portais, arcos de triunfo, tectos, abóbadas, pilares e colunas, arcos, nervuras (ogivas, liernes e terceletes), frisos, cornijas, platibandas (como nos Jerónimos) óculos e contrafortes, além de túmulos, fontes, cruzeiros, etc.


Destacando-se a Igreja de Nossa Senhora da Conceição (1547), em Tomar, da autoria de João de Castilho (1490-1151), e o palácio da Quinta da Bacalhoa (c.1540), em Azeitão, atribuída a Diogo de Torralva, também autor do claustro principal do Convento de Cristo em Tomar.
Apesar de ser essencialmente ornamental, o Manuelino caracteriza-se também pela aplicação de determinadas fórmulas técnicas da altura, como as abóbadas com nervuras polinervadas a partir de
mísulas.

No domínio da escultura, a arte renascentista portuguesa concentrou-se sobretudo na feitura de retábulos (estrutura de pedra ou madeira, ornamentada, que se ergue na parte posterior do altar e que contém normalmente um quadro religioso), imagens de santos e túmulos onde estão bem patentes duas das suas características fundamentais: a proporção e o realismo.

De entre os autores mais importantes, o destaque vai para dois grandes artistas estrangeiros que deixaram uma vasta e valiosa obra entre nós: Nicolau de Chanterenne (1517-1551), que trabalhou nos Jerónimos, no Mosteiro de santa Cruz em Coimbra, na igreja de S. Marcos em Tentúgal, na capela da Pena em Sinta, no Convento do Paraíso em Évora, e João de Ruão em Portugal, entre 1528 e 1580), autor de inúmeras obras, como o Claustro da Manga no Mosteiro de santa Cruz em Coimbra, o retábulo do altar da igreja da Nossa Senhora da Misericórdia em Varziela, etc.


Na Pintura, a influência renascentista fez-se sentir sobretudo através da escola flamenga, graças às obras importadas da Flandres e à presença de pintores originários desta região da Europa. Essa influência revela-se na concepção do espaço, no emprego de motivos renascentistas na ornamentação de arquitecturas, em mobiliário, objectos vários e no realismo da representação da figura humana e da Natureza.


O Políptico (retábulo constituído por vários painéis), de São Vicente, atribuído a Nuno Gonçalves, uma obra emblemática da pintura portuguesa, constitui um notável “retrato” da sociedade quatrocentista, marcando uma ruptura em relação aos rígidos esquemas góticos e revelando uma sensibilidade plástica prenunciadora da arte do Renascimento. Jorge Afonso (c.1475-1540), que se notabilizou em Lisboa nos reinados de D. Manuel I e de D. João III, foi um dos artistas que colheram essa influência, a qual se fez igualmente sentir noutras partes do País, em particular em Viseu, cidade a que ficou ligado Vasco Fernandes, mais conhecido por Grão-Vasco (1480-1543). A sua obra, embora influenciada pela pintura flamenga apresenta uma grande originalidade pelo vigor expressivo e pelo dramatismo das figuras representadas.

Painéis de são Vicente (c.1470), atribuídos a Nuno Gonçalves. Composto por um conjunto de seis tábuas, este políptico marca uma ruptura com os rígidos esquemas góticos e prenuncia a arte do renascimento em Portugal. Sob o ponto de vista temático, encerra em si uma ideia precisa da sociedade portuguesa quatrocentista. Em torno da figura idealizada de s. Vicente, reúnem-se pescadores, frades, cavaleiros, membros da família real, provavelmente o próprio D. Afonso V e outras personagens da sociedade da época retratadas com um realismo impressionante.


Manel

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