quarta-feira, 7 de outubro de 2009

"Civilização" de Eça de Queiroz

"Agarrando" a sugestão do professor decidi fazer um post sobre um conto por nós, turma, analisado no ínico deste ano lectivo. O conto tem o nome de "Civilização", da obra "Contos", e é do autor Eça de Queiroz. Sei que à primeira impressão parece bastante extenso, eu própria o achei, e sei que por vezes, e para algumas pessoas, é um pouco aborrecido ler algo com um tamanho assim mas acreditem que vale a pena. Depois de bem analisado, com interesse, este conto pode tornar-se numa obra bastante rica e interessante, pelo menos assim a considero.



O autor começa por nos falar de Jacinto, um homem culto e inteligente, com uma vida repleta de "doçuras e facilidades", várias amizades felizes, possuidor de uma biblioteca "com mais de vinte e cinco mil volumes", dos "grandes aparelhos facilitadores do pensamento" como o telefone, a máquina de escrever, entre outros. Jacinto podia dar-se ao luxo de cometer excentricidades como ter tantas escovas que para nós é impensável: "Com uma escova chata, redonda e dura, acamava o cabelo, corredio e louro, no alto, ao lado das riscas; com uma escova estreita e recurva, à maneira do alfange de um persa, ondeava o cabelo sobre a orelha; com uma escova côncava, em forma de telha, apastava o cabelo, por trás sobre a nuca; com uma escova de longas cerdas, fixava o bigode; com uma escova leve e flácida acurvava as sobrancelhas; com uma escova feita de penugem regularizava as pestanas. E deste modo Jacinto ficava, diante do espelho, passandopêlos sobre o seu pêlo, durante 14 minutos."


Mesmo assim, mesmo sendo "de todos os homens, o homem mais complexamente civilizado", Jacinto "bocejava, com um bocejo cavo e lento". Os seus amigos questionavam-se: "Que faltava a este excelente homem?". Jacinto decide assim regressar ás origens, buscar a felicidade na simplicidade. E de facto consegue: "É no máximo da civilização que o homem experimenta o máximo de tédio. A sapiência, portanto, está em recuar até esse honesto mínimo de civilização, que consiste em ter um tecto de colmo, uma leira de terra e grão para nela semear". Passados uns anos nessa humilde condição, Jacinto "não faz a barba, no caminho silvestre pára e fala com crianças e todos os casais da serra o bendizem".




Caricatura de Eça de Queiroz


Por fim, sinto-me na obrigação de destacar um frase muito importante deste conto: "Através das ruas eu ia pensando que outros homens, com uma certeza mais pura do que é a Vida e a Felicidade, dariam como eu com o pé no lixo da supercivilização, e, como eu, ririam alegremente da grande ilusão que findara, inútil e coberta de ferrugem".

Além de descrever e ajudar-nos a compreender a estrutura e mentalidade da sociedade portuguesa de fins de oitocentos e inícios do século XX, este conto acaba por se revelar numa bela lição ou ensinamento acerca da vida e da verdadeira felicidade. Por esta razão, aconselho-vos vivamente que leiam este conto. Espero ter-vos despertado a curiosidade. Podem ler o conto online visto que diversos sites o disponibilizam.

Carolina

1 comentário:

  1. Formidável! Não podes imaginar como fico contente: com a iniciativa, com a qualidade e com o prazer de ver coisas feitas com prazer! Continua! FM

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